terça-feira, 21 de setembro de 2010

Eminem. O regresso do maior rapper do século XXI


Contemplando um mar de telemóveis erguidos acima das cabeças no Comerica Park da sua Detroit natal, Eminem, emocionado, resolve tirar a máscara de Slim Shady - pelo menos em parte - e diz aos fãs como se sente realmente. "Detroit", berra, "estar de volta é uma sensação do caraças!".

Bom, não foi exactamente "caraças" que ele disse. Mas que não haja confusões; o músico que mais discos vendeu na primeira década do século XXI (78 milhões) está de volta. Depois de uma desintoxicação e de uma profunda introspecção, ei-lo de volta, revigorado.

O regresso aconteceu, aliás, com "Relapse" (2009), o seu primeiro álbum novo em quatro anos. Entrou directamente para o 1.o lugar da tabela Billboard 200 e vendeu mais de 3 milhões de exemplares em todo o mundo, mas Eminem considera que o seu verdadeiro regresso é a faixa apropriadamente intitulada "Recovery". Este seu sétimo álbum, feito em estúdio, também teve honras de n.o 1 em Junho e, em dois meses, obteve a certificação de disco de dupla platina. Esteve sete semanas consecutivas no topo da tabela de álbuns e os dois primeiros singles ("Not Afraid" e "Love the Way You Lie", que tem Rihanna como convidada) também entraram para a posição cimeira. "Not Afraid", aliás, foi o segundo single de rap e a 16.a música de qualquer género a ter entrado directamente para o n.o 1.

"Estou muito contente com a maneira como as pessoas acolheram o álbum", diz Eminem, de 37 anos, a partir do seu estúdio nos subúrbios de Detroit, imediatamente antes do concerto no Comerica Park, um de quatro numa série de concertos "Home and Home" que deu com o rapper nova-iorquino Jay-Z. "Quanto ao que consegui com ele, ainda não sei. Estou só muito contente por aqui estar. Estou feliz por ter uma carreira tão longa."

Contudo, o caminho para "Recovery" foi duro e preenchido com vários desaires bastante públicos. Em 2005 já Eminem (de seu verdadeiro nome Marshall Mathers III), nascido no Missouri, se tinha mudado, enquanto adolescente, para a zona de Detroit, conquistado o mundo da música e feito incursões no cinema com o seu filme semi-autobiográfico "8 Mile'' (2002), que deu origem ao êxito "Lose Yourself". As suas letras, de um escandaloso humor negro e muito criticadas por serem consideradas misóginas e cheias de violência gratuita, talharam-lhe um nicho bem definido no hip-hop e levaram-no ao mercado pop maioritário - embora com um número recorde de "blips" da censura.

Cansaço Apesar desses triunfos, Eminem foi ficando desgastado por uma dependência de analgésicos e de soporíferos, tendo dado entrada pelo seu pé num hospital antes de acabar a digressão "Anger Management" em Agosto de 2005. Subsequentemente, foi vítima de uma overdose de metadona em 2007. Durante esse período, passou também por um segundo divórcio da sua (duas vezes) mulher Kim e pela morte a tiro, em palco, do seu grande amigo e hype man (interlocutor) DeShaun "Proof" Holton.

Quando Eminem finalmente se viu livre das dependências, em princípios de 2008, teve de gerir os muitos destroços que se tinham formado à sua volta. "Todo esse período de recuperação foi, para mim, um processo de aprendizagem", reconhece o rapper, pai de uma filha de 14 anos, Hailie, e co-educador de uma sobrinha adolescente e da filha mais nova da sua ex-mulher. "À medida que passei por tudo isto, fui mudando como pessoa. Houve pequenos passos que me levaram a coisas maiores... mas o simples facto de voltar a sentir o chão debaixo dos pés foi, em si mesmo, uma jornada."

Eminem considera agora que "Relapse" e "Encore" (2004), ambos ganhadores de um Grammy, são obras menores no seu palmarés. "Acho que o álbum ''Relapse'' pode ser visto como a minha jornada de libertação das dependências, uma reaprendizagem do rap", diz. "Mas as músicas que estava a gravar eram emocionalmente débeis. Acho que em ''Relapse'' eu estava... a tentar provar... a mim próprio que era capaz de voltar a escrever e a fazer rap. No meio de tudo isso, fiquei um pouco perdido."

Embora tivesse planeado originalmente um "Relapse 2" baseado nas mesmas sessões - tendo lançado um conjunto alargado chamado "Relapse: Refill" em Dezembro - Eminem teve um arranque criativo no Verão de 2009 enquanto estava de férias no Havai com o seu mentor Dr. Dre. "Durante essa estada gravei talvez 15 canções", relembra, "e acho que a segunda metade delas, talvez as últimas três ou quatro, me deu a sensação de ''pronto, estou a começar a sentir-me normal outra vez. Isto agora parece-se mais comigo''. Por isso, quando voltei a Detroit, pensei, ''Boa, estou a começar a ser eu próprio outra vez."''

Recomeço Os planos para "Relapse 2" foram cancelados e "Recovery" começou a tomar forma quando Eminem aceitou ritmos e produções de novos colaboradores, entre eles Just Blaze, Boi-1da, Havoc, Jim Jonsin, DJ Kahlil e o seu colega dos D-12, Denaun Porter, que tomou o lugar de Proof em palco, ao lado de Eminem. "Isso deu-me uma oportunidade", diz Eminem, que calcula ter gravado 25 ou 30 músicas além das 17 incluídas no álbum. "Deu-me a hipótese de me sentar de caneta na mão sem ter de me preocupar com as batidas. Foi uma maneira de obter um som diferente, de um grupo de pessoas diferente, e uma espécie de equilíbrio em todo o álbum."

"Love the Way You Lie", um repisar sobre relações disfuncionais e abusivas, surgiu "para aí na 11.a hora de gravações", diz. Da autoria de Alex da Kid, a música foi passada a Eminem pelo seu empresário Paul Rosenberg, nascido em Detroit. "O Paul disse qualquer coisa do género: ''Sei que acabaste as gravações, mas ouve só isto''", recorda Eminem. "Assim que ouvi a faixa, foi tipo, ''Iô... '' O refrão mexeu comigo."

Também lhe deu a oportunidade de trabalhar com Rihanna, ela própria vítima de maus-tratos do ex-namorado Chris Brown. "Passava o tempo a falar nisso às pessoas do estúdio, tipo, ''Iô, a Rihanna é fixe. O que acham de eu fazer uma música com ela?''", afirma Eminem, que também incluiu Lil'' Wayne e Pink em "Recovery". "Ela é uma vocalista super talentosa... mas eu não queria falar com ela até ter a música certa. A minha abordagem em "Love the Way You Lie" foi em função dela. Senti que, se ela pegasse nesse refrão, ia ser de loucos, e eu queria muito que ela o fizesse.''

Agora com o êxito criativo e comercial de "Recovery", Eminem sente estar de novo no percurso de que tinha resvalado há cinco anos e está pronto a seguir em frente. Está no estúdio "talvez cinco dias por semana", mas até agora não tem projectos para um próximo álbum. "Só faço música e gosto sempre de escrever", diz, "só para me manter em jogo."

Eminem está também a esforçar-se para se manter no bom caminho no plano pessoal. Embora já não frequente reuniões dos Narcóticos Anónimos nem dos Alcoólicos Anónimos ("Não estava de facto a retirar nada delas", diz), continua a falar com um conselheiro de reabilitação uma vez por semana. Também se apoia num amigo, Elton John, que o "ajuda; falamos das coisas, incluindo o estar sóbrio e limpo". As responsabilidades de pai e educador "ajudam-me a manter- -me nos carris", diz. "Mas, basicamente, pá, tento manter-me ocupado."

Ainda assim, tem cuidado em não se entregar em excesso e não se dispõe a aceitar digressões intensas nem sequer oportunidades de papéis no cinema de que se ouvem regularmente zunzuns. "Estou a gerir as coisas à medida que aparecem, assim um passo de cada vez, e a ver o que vai acontecer a seguir."

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